Notícias | Possível divergência de datas sugere que Fortaleza pode ser mais antiga do que se pensava.

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Possível divergência de datas sugere que Fortaleza pode ser mais antiga do que se pensava.


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Possível divergência de datas sugere que Fortaleza pode ser mais antiga do que se pensava.

No passado colonial, houve debates sobre a origem da cidade de Fortaleza, com historiadores apontando diferentes marcos temporais. Alguns defendem que a cidade poderia ter 375 ou até mesmo 420 anos, ao invés dos 298 anos oficialmente reconhecidos.

Diferentes datas são apontadas como o surgimento de Fortaleza, incluindo a construção do Forte de São Tiago em 1604, a construção do Forte Schoonenborch em 1649 e a criação da vila em torno do Forte Schoonenborch em 1726.

O historiador Adauto Leitão destaca a possibilidade de Fortaleza ter 420 anos caso tenha começado na Barra do Ceará. Ele ressalta que a cidade poderia ser uma das mais antigas do Brasil, iniciando com a chegada dos portugueses nessa região.

Em 1603, Pero Coelho liderou uma expedição às margens do rio Ceará autorizada pelo rei espanhol Felipe II. Essa iniciativa visava estabelecer um território que ainda não despertava interesse europeu devido a fatores como a falta de recursos econômicos e resistência indígena.

A escolha do estuário do rio como local para ancorar a expedição de Coelho foi influenciada pelos relatos de Vicente Pinzón, que descreveu a costa entre Mucuripe e o rio Ceará em 1500. Segundo Leitão, o Forte de São Tiago, erguido em 1604, marca o início de Fortaleza, situando a Barra do Ceará como o marco zero da cidade.

Um registro histórico datado de 1629, atribuído a João Teixeira Albernaz, destaca a presença do ‘Forte do Siará’ na região da Barra. O relato menciona a convivência harmoniosa do primeiro capitão-mor do Ceará com os indígenas locais durante sua permanência na capitania. Os diários e cartas do capitão reforçam essa relação pacífica, além de evidenciar a chegada de um grupo de pessoas negras de Pernambuco para contribuir com o povoamento da região.

O historiador ressalta a importância contínua da região após as primeiras expedições, como a instalação da primeira câmara dos vereadores do Ceará na região em 1701. Ele destaca a prosperidade econômica existente no local, que contrapõe a ideia de que a Barra do Ceará não foi bem-sucedida no povoamento e habitação.

O bairro Barra do Ceará em Fortaleza, representado pelo Marco Zero, mantém viva a resistência à tentativa de apagar sua história, celebrando anualmente o aniversário da cidade em julho. O local também exibe referências ao Forte do Siará, como a Praça de Santiago e o Cruzeiro de Santiago.

O Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses em 1649 e posteriormente rebatizado pelos portugueses, desencadeou uma mudança na perspectiva histórica da cidade. Raimundo Girão, historiador, defende que a evolução urbana de Fortaleza teve início com o Forte, que hoje abriga a sede da 10ª Região Militar. A fortificação, erigida próximo ao riacho Pajeú, marcou um período de ocupação holandesa antes de ser retomada pelos portugueses e renomeada como Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção em 1654.

Girão propõe que o aniversário de Fortaleza seja celebrado em abril, data de construção do Forte Schoonenborch, há 375 anos. Ele destaca Matias Beck como o fundador de Fortaleza, desafiando a narrativa que atribuía a Martim Soares Moreno esse papel de destaque. A mudança do herói fundador de português para holandês gerou controvérsias, especialmente entre os setores ligados ao catolicismo que preferiam Manoel Soares Moreno como figura central na fundação da cidade.

Em um texto polêmico de 1972, Raimundo Girão questionou a figura de um holandês calvinista como fundador da cidade, em contraponto à visão católica dominante. Historiadores contemporâneos corroboraram as ideias de Girão sobre a evolução urbana a partir do forte original.

A controvérsia girou em torno de duas correntes: os ‘morenistas’, que defendiam Martim Soares Moreno como fundador, e os ‘beckistas’, que destacavam Matias Beck. O Instituto do Ceará, fundado em 1887, foi fundamental nessa busca por uma narrativa de origem para Fortaleza e o Ceará.

Os estudos feitos nesse período, por ocasião dos 300 anos do Ceará, baseavam-se na presença portuguesa como marco zero da colonização. Martim Soares Moreno foi eleito fundador em detrimento de Pero Coelho de Souza, considerado sem os atributos de um herói, devido a seu fracasso na primeira expedição e na resistência indígena.

O historiador Almir Leal destaca que as teses que propunham Matias Beck como fundador encontraram resistência, principalmente dos católicos, mas também despertaram interesse ao associar a cidade à cultura holandesa. No entanto, segundo o pesquisador, não há evidências concretas da influência holandesa na evolução urbana de Fortaleza, exceto pela estrada aberta pelos holandeses até a serra de Maranguape.

Apesar das divergências históricas, a data oficial de aniversário de Fortaleza é 13 de abril de 1726, estabelecida por uma lei municipal em 1994. Essa data simboliza a fundação da vila em torno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, sendo adotada como marco histórico da cidade.

No início da colonização, a primeira vila da capitania do Siará foi estabelecida em Fortaleza. Após a Coroa Portuguesa decretar a elevação do povoado ao redor do forte, a notícia chegou apenas em 1700, causando conflitos de interesses entre os moradores locais. Os desentendimentos sobre a localização do pelourinho, símbolo da jurisdição oficial, destacavam os proprietários de fazendas e comerciantes que preferiam Aquiraz, devido à prosperidade comercial, em oposição a Fortaleza, que era considerada apenas um povoado militar.

A “dança do pelourinho” se desenrolava entre as disputas por onde seria erguida a estrutura oficial da vila, representada pela coluna de pedra ou madeira. Este marco também era acompanhado de investimentos em outras estruturas que simbolizavam o poder legal do estado português, como o juiz ordinário e a câmara de vereadores. Além disso, o capitão-mor era responsável pela segurança da região, ocupando espaços de poder que eram geralmente dominados pelos homens de posse, como fazendeiros, comerciantes e grandes proprietários.

No início do século 18, a definição da localização dessas estruturas em Aquiraz, Barra do Ceará e em torno do forte estava em constante mudança de acordo com os interesses locais. A presença portuguesa no Ceará abrangia o litoral, expandindo-se para o interior, impulsionada pela Confederação dos Cariris, um movimento indígena de resistência que contribuiu para a consolidação da vila de Fortaleza.

A vila finalmente se estabeleceu como Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção em 1726, com a decisão de Portugal de manter dois pelourinhos, formalizando a importância da região. Ao longo dos séculos, a relevância de Fortaleza foi impulsionada pelo enriquecimento dos comerciantes, especialmente durante o século XIX com as exportações que supriam o mercado internacional em tempos de crise, como a Guerra de Secessão nos Estados Unidos.

Apesar da história da cidade, pesquisadores do século XIX enfrentaram dificuldades para construir uma narrativa histórica coesa devido às diferentes localidades envolvidas em sua formação. As polêmicas sobre a origem da cidade continuam até os dias atuais, como refletido em discussões na Câmara Municipal de Fortaleza em 2008, que buscavam alterar a data de aniversário da cidade para reconhecer marcos históricos em outras partes, como a Barra do Ceará.

Um artigo abordando como certos municípios seguem os critérios de governança do Império português para estabelecer sua criação, revelando que a formação de vilas era mais voltada para resolver conflitos locais do que para fomentar o crescimento urbano e a fundação de cidades.

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